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Ele sorri quando me embaralho com as palavras, diz que estou bonita quando vem me buscar em minha casa e abre a porta do carro para que eu entre. Ele é o tipo de garoto ideal e todas as minhas amigas sentem inveja de mim. Ele me espera todos os dias na saída da escola e deixa-me escolher a música que vai tocar no seu carro.
Mas sempre que fico um momento sozinha é no garoto que gr
itava comigo que lembro e dos meus gritos xingando seu nome nas madrugadas depois de festas. Lembro-me daquele amor insano que provocava um friozinho na barriga todos os dias quando eu sentia a dúvida se o veria, por que foi assim que nos amamos, de maneira louca e possessiva, mas é disso que lembro quando fico sozinha.
O Ele em minha casa conversa com meu pai sobre negócios e elogia a minha mãe pela roupa que estiver usando. Ele sabe os momentos certos de me fazer rir e os momentos certos de me deixar sozinha. Ele me conhece como nenhum garoto jamais me conheceu e briga comigo sempre que saio de casa sem comer. Ele é o garoto perfeito pra mim...
Mas quando me lembro da noite chuvosa que o aquele me arrancou de casa para corrermos na lama e das juras de amor que eu gritava quando estávamos em sua cama, tudo parece desaparecer. Quando me lembro dos gritos de ódio que dávamos por ciúmes e das declarações ditas em público sinto saudade daquela forma insana a qual o amei.
Ele cozinha pra mim quando vou para casa dele, arruma a cama com velas circundantes e prepara uma música que me deixa tranquila. Aquele me carregava no ombro enquanto eu estava desprevenida e me levava até o seu quarto quando não tinha ninguém em sua casa. Ele vai embora quando estou estressada. Aquele gritava comigo e saia esbaforido como se daquela vez fosse realmente o nosso fim e no dia seguinte me sequestrava para um lugar que ninguém pudesse nos achar. Era um amor irreal e é disso que sinto falta.
Ele me protege quando sinto frio e deita sobre a minha barriga sempre que sinto cólica. Ele deixa que eu escolha o filme que vamos assistir e nunca me oferece pipoca por que sabe que eu detesto. Ele deixa que eu o chame de Di na frente dos seus amigos e nunca me deixa envergonhada quando estou com a sua família. Ele é o homem dos sonhos de qualquer garota e eu me orgulho de tudo isso.
Mas quando me lembro dos beijos apaixonados que aquele me dava quando meu pai estava distraído em seus jornais e das poucas palavras que ele dirigia à minha mãe, sinto falta da garota quase rebelde que me tornei, a que desafiava o mundo por aquele amor, a que jamais pensou em deixa-lo para trás.
Não estou infeliz, já superei toda a tristeza da distância que se sobrepôs entre eu e aquele. Já superei e hoje sinto apenas saudade daquele amor devastador e invencível, sinto apenas a dor da saudade por que felicidade eu sinto sempre que Ele me liga pra avisar que já chegou em casa e que vai tomar banho para passar aqui , sinto sempre que reclama comigo quando quero tomar banho de chuva numa noite fria e eu acabo o carregando junto comigo e sinto sempre que ele me olha nos olhos e eu vejo na doçura de suas palavras que ele me ama como ninguém jamais me amou. Mas eu sinto saudade do frio na barriga antes de dormir ao pensar se eu tinha razão ou não na briga que havia ocorrido minutos antes.

Carla Maria de Oliveira

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