Apronto agora os meus pĂ©s na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento, eles secam as lĂ¡grimas. Vou ali ser feliz e nĂ£o volto.
Fui vivendo minha vida de maneira tĂ£o solitĂ¡ria, conquistando minhas coisas tĂ£o no braço, tĂ£o sempre sem nada, que aprendi a ter uma enorme admiraĂ§Ă£o por mim mesmo.
Sabe, eu acho que nĂ£o sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo sĂ£o sempre virgulas, aspas, reticĂªncias.
Quero colo, quero beijo, quero cafunĂ©, abraço apertado, mensagem na madrugada. Quero flores, quero doces, quero mĂºsica, vento, cheiros.
[…] Porque amar sozinho Ă© solitĂ¡rio demais, abandono demais, e vocĂª estĂ¡ nessa vida para evoluir, mas nĂ£o para sofrer. Hoje eu acordei sem ter quem amar, mas aĂ eu olhei no espelho e vi, pela primeira vez na vida, a Ăºnica pessoa que pode realmente me fazer feliz.
Eu jĂ¡ nĂ£o sei quantas vezes eu disse que nĂ£o voltaria atrĂ¡s e voltei.
NinguĂ©m te ama, ninguĂ©m te quer, ninguĂ©m te conhece, ninguĂ©m tem acesso Ă tua alma. Tuas neuras sĂ£o sĂ³ tuas, e parece que nada nem ninguĂ©m preenche esse vazio.
Vou ser feliz, sem me importar com o que isso irĂ¡ causar aos outros… o importante Ă© que nĂ£o estou fazendo mal a ninguĂ©m, pelo contrĂ¡rio! Estou apenas enterrando as impurezas e toxinas da minha vida e deixando brotar uma bela e frutĂfera Ă¡rvore, e que seja doce.
Uma dose de amnĂ©sia e duas de desapego, por favor…
AtrĂ¡s das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tĂ£o rĂ¡pido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos hĂ¡ tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mĂ£o, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar tambĂ©m em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou sĂ³ e tenho medo. Sorrio, entĂ£o. E quase paro de sentir fome.
E Deus continua sussurando: NĂ£o desista, o melhor ainda estĂ¡ por vir.
Outros filmes viriam, nos dias seguintes, e tĂ£o naturalmente como se de alguma forma fosse inevitĂ¡vel, tambĂ©m vieram histĂ³rias pessoais, passados, alguns sonhos, pequenas esperança e sobretudo queixas.
A verdade Ă© que nĂ£o havia mais ninguĂ©m em volta.
Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.
Sou terrivelmente instĂ¡vel e entender as minhas reações Ă© coisa que Ă s vezes nem eu mesmo consigo.
Relaxa, respira, se irritar Ă© bom pra quem? Supera, suporta, entenda: isento de problemas eu nĂ£o conheço ninguĂ©m…
NĂ£o vou perguntar por que vocĂª voltou, acho que nem mesmo vocĂª sabe, e se eu perguntasse vocĂª se sentiria obrigado a responder, e respondendo daria uma explicaĂ§Ă£o que nem mesmo vocĂª sabe qual Ă©. NĂ£o hĂ¡ explicaĂ§Ă£o, compreende? (…) SĂ³ vou perguntar por que vocĂª se foi, se sabia que haveria uma distĂ¢ncia, e que na distĂ¢ncia a gente perde ou esquece tudo aquilo que construiu junto. E esquece sabendo que estĂ¡ esquecendo.
Que continue sendo doce o seu modo de demonstrar afeto, o seu jeito, seus olhares, seus receios. Que seja doce a ausĂªncia do nosso medo, o seu abraço e a maneira como segura minha mĂ£o. Que seja doce, que sejamos doce e seremos, eu sei.
Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerĂ¡ muito mais — por que ir em frente? NĂ£o hĂ¡ sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quĂª. Melhor do que nĂ£o sobrar nada, e que esse nada seja Ă¡spero como um tempo perdido.
VocĂª sabe que vai ser sempre assim. Que essa queda nĂ£o Ă© a Ăºltima. Que muitas vezes vocĂª vai cair e hesitar no levantar-se, atĂ© uma prĂ³xima queda. Prefere jogar-se numa atitude que seria teatral, nĂ£o fosse verdadeira, sentir os espinhos rasgando carne, as pedras entrando no corpo, o rosto espatifado contra o fim desconhecido. Precisa ir atĂ© o fundo.
Acorde, garota! VocĂª Ă© linda, inteligente, tem um Ă³timo perfume e seus olhos brilham mais que um punhado de purpurina. Por que chora? Perdeu em alguma esquina seu encanto?! NinguĂ©m pode tirar de vocĂª seu mais belo sorriso, motivo de idas e vindas saltitantes. Coloque sua mĂºsica favorita para tocar, respire fundo e faça o que de melhor sabe fazer: Ser vocĂª…
Cansado, cansado. Quase nĂ£o dormi. E nĂ£o consigo tirar vocĂª da cabeça. Estou te escrevendo porque nĂ£o consigo tirar vocĂª da cabeça. Hesito em dizer qualquer coisa tipo me-perdoe ou qualquer coisa assim. Mas quero te contar umas coisas. Mesmo que a gente nĂ£o se veja mais. Penso em vocĂª, penso em vocĂª com força e carinho.
NĂ£o Ă© saudade, porque para mim a vida Ă© dinĂ¢mica e nunca lamento o que se perdeu - mas Ă© sem dĂºvida uma sensaĂ§Ă£o muito clara de que a vida escorre talvez rĂ¡pida demais e, a cada momento, tudo se perde.
Confesso que me dĂ¡ uma saudade irracional de vocĂª. E tenho vontade de voltar atrĂ¡s, de ligar, de te dizer mil coisas, e cair em suas mĂ£os, sem me importar com nada, simplesmente entregar-te meu coraĂ§Ă£o. Mas nĂ£o, renuncio, me controlo e digo para mim mesmo que nĂ£o Ă© assim, que nĂ£o pode ser, que vocĂª se foi, e nĂ£o volta.
Caio Fernando de Abreu