{Resenha} Waterloo - Rupert Matthews
ESQUECIDOS EM WATERLOO
Quando me deparei com as
130 páginas de “WATERLOO A batalha que mudou a história da Europa e selou o
destino de Napoleão” duvidei muito que RUPERT MATTEWS, o autor desse volume nº 9 da coleção História Viva
da Ediouro (R$ 24,90) conseguisse gastá-las ocupando-se tão somente da batalha.
Acreditava que teria de traçar o cenário histórico, o entorno, assim como o
antes e o depois.
Qual nada. O inglês não
se preocupa com essas coisas senão com o estritamente necessário. Descreve a
batalha em detalhes que devem fascinar os especialistas e ensina aos leigos –
como eu – os ritos de batalha, na verdade da arte de matar e morrer.
Não gosto de guerras e –
mesmo sendo um confesso admirador da personalidade evidentemente forte,
criativa e altamente inteligente de Napoleão Bonaparte, não aprovo as escolhas
que fez. Acho que deveria ter tentado pela política o que procurou fazer pelas
armas. De todo modo, foi o primeiro a sonhar com a união europeia e essa é uma
bela e grande visão.
Para analisar qualquer
personagem histórica, no entanto, é preciso vê-la dentro de seu tempo. Não
havia sequer o conceito de democracia tal como o conhecemos hoje. A lógica do
conquistador imperava entre todos os que tinham um exército digno desse nome.
Certamente a França não seria deixada em paz por seus inimigos, assim como ela
não os deixou em paz.
Internamente, diante do
absolutismo em declínio e a revolução francesa se perdendo em si mesma,
Napoleão soube aproveitar o momento histórico e subir ao poder.
Desposto, a ele volta e
Waterloo será sua última chance de ferir de modo significativo seus inimigos
externos, de tal maneira que estes não ajudassem a nenhum Luís voltar.
Claro que a leitura do
livro de MATTEWS feita por quem tem conhecimento disso tudo é percebida de um
modo diferente da visão do estudante para quem parece ser destinada a obra.
Mas, não é um livro didático no sentido clássico. Não tem lições ou exercícios.
É exatamente aquilo que propõe a coleção: História Viva.
Uma narrativa de tirar o
fôlego da grande derrota de Napoleão que pode ser lida com prazer e
perplexidade por qualquer um.
Em termos de ganho
pessoal (falo do crescimento espiritual do leitor), este será encontrado na
reflexão do destino das personagens e países envolvidos.
Há no episódio Waterloo
um grande esquecido pelo público: Gebhardt Leberecht von Blücher (1742-1819)
marechal-de-campo prussiano que veio em socorro de Wellington e permitiu a este
vencer Napoleão em Waterloo e ficar com a fama.
A Prússia, quem diria,
não existe mais. Mas, como assim; a Prússia não é a Alemanha? Não é bem assim.
O reino da Prússia foi um reino alemão de 1701 a 1918 e, a partir de 1871, o
principal estado-membro do Império Alemão. Em sua origem, entretanto, era um
povo báltico que habitava a Curlândia e o Vístula (hoje norte da Polônia).
Tácito, em sua obra “Germania”, em 98 d.C. descreve esses lugares e seus
habitantes pela primeira vez. Ou seja, era um povo, um país, um reino, uma
cultura, antes de haver Alemanha. A Prússia moldou a história da Alemanha e é
anterior a ela. Mas não se pode confundi-la com a Alemanha, sob pena de se
esquecer de Frederico, seu primeiro rei, ou de Sophie Charlotte, sua primeira
rainha, ou do soldado Blücher, razão da observação.
O marechal deve ser
estudado nos bancos escolares alemães como o herói que derrotou Napoleão. Mas,
para o resto do mundo, foi Wellington quem passou para a história como vencedor
de Napoleão.
E essa é a primeira lição.
Vencedor não é necessariamente quem vence; mas, antes de tudo, quem parece
vencedor. Quem passa para a História como vencedor.
A contribuição prussiana
está enterrada com Blücher e ele mesmo enterrado com ela. Na unificação alemã
de 1871, havia mais de cinquenta anos que havia morrido.
A segunda lição, no
entanto, é a mais importante e é o que justifica ser publicada essa resenha do
livro de MATTEWS nesse blog, dedicado a literatura e ao mútuo crescimento
literário e pessoal de articulistas e leitores: NÃO HÁ IMPÉRIO QUE A HISTÓRIA
NÃO DESTRUA.
Ora, se não há
organização humana (por mais substancial que seja sua cultura ou o destemor e
coragem de seus guerreiros) que resista a passagem do tempo, vale dizer, à
História e seus ataques, então não há império inabalável, não há governo insubstituível,
não há inimigo político que não possa ser vencido.
Trazendo para o dia a dia
da gente, não há problema que não possa ser resolvido.
E essa louca fé na
vitória com que alguns homens travam suas guerras, será, no fim das contas, o
que mais fascina neles: a objetividade, a determinação, a perseverança, isso de
saber o que se quer, de lutar até a morte para conseguir.
Derrotado, Napoleão – já
a bordo do HMS Bellerophon, da Marinha Real inglesa, declarou ao capitão do
navio, Frederick Maitland: “Ponho-me sob a hospitalidade de seu príncipe. ”
Nenhuma derrota lhe tiraria a calma, a elegância, os bons modos de um perfeito
cavalheiro.
Vale a pena ler WATRERLOO
se não para compreender porque os homens brigam para aprender como o fazem os
homens de valor.
Teresópolis, 10/08/2016
A LUTA PELO ESTANDARTE,
Richard Ansdell, óleo sobre tela, 1847
NATIONAL ARMY MUSEUM,
LONDON
6 coment�rios
Puxa, que interessante. Tenho esse livro em casa, pois faz parte de uma coleção antiga de livros em capa dura que meu pai tinha, mas nunca li. Bacana a sua resenha. Beijos, Fabi Fontainha
ResponderExcluirIngrid lindona!
ResponderExcluirNunca me interessei pelo titulo, mas agora até fiquei curiosa, bejios minha linda.
Nao me interesso por livros de guerra mas parece ser bem interessante este livro. Parabéns pela resenha, escreve muito bem.
ResponderExcluirMe parece um livro interessante. Não gosto de guerra mas me interesso por livros do gênero, justamente para fazer a análise das decisões em cada época.
ResponderExcluirAdoro história e curti muito a dica. Vou ler!
ResponderExcluirClau
@AsPAsseadeiras
Li esse livro agora no final do ano e achei fantástico a forma com que o autor descreveu todo o trama da batalha. Gostei também dos boxes sobre as biografias dos participantes bem como as ilustrações. Ah, parabéns pelo blogger.
ResponderExcluirLyndon.